O meu cão uiva, ladra e destroi tudo em casa quando o deixo sozinho. Será este um comportamento normal? Como o posso controlar?
Efectivamente este comportamento é muito frequente, mas não deve ser considerado como normal, nem desejado.
A este problema chama-se ansiedade por separação e é facilmente compreesivel a sua origem se nos lembrarmos que os cães são animais que vivem em matilha. Para compreender melhor este problema e saber como o resolver, leia o resto do artigo.
A ansiedade por separação consiste num variado conjunto de comportamentos indesejados levados a cabo quando o animal fica sozinho ou quando fica sem o seu dono preferido.
Os comportamentos indesejados podem ser:
– ladrar e uivar;
– arranhar à porta;
– destruir objectos pessoais (livros, chinelos, fios);
– roer móveis e paredes;
– escavar;
– urinar ou defecar propositadamente em locais inapropriados;
– não comer nem beber;
– tremores, diarreia e automutilação;
– depressão.
Esta ansiedade surge porque o animal está demasiado ligado ao dono. Considera-se que o animal é completamente dependente do proprietário e todo o tempo que este tem que passar longe dele causa-lhe um stress demasiado grande que o faz ter esse tipo de atitudes.
A prevenção deste problema pode ser feita entre os 2 e os 4 meses de idade do animal (no período de sociabilização). Esta é a idade em que o cachorro deve contractar com outros animais, para além da mãe e dos irmãos. A ligação dos humanos com os cães deverá ser feita em harmonia e de modo a impedir que ele fique demasiado dependente de nós.
Alguns episódios traumáticos para o animal podem precipitar o desenrolar deste problema, tais como:
– separação precoce dos cachorros da mãe;
– filhotes mantidos durante demasiado tempo sozinhos, em lojas de animais e canis;
– mudança repentina de ambiente (casa ou canil);
– mudança do estilo de vida;
– ocorrência de um episódio traumático na ausência do proprietário;
– introdução ou ausência de um membro de família.
Não há predisposição de raça ou sexo.
Muitos animais apresentam sinais de ansiedade mesmo antes de o dono sair:
– começam a seguir o dono por todo o lado (mesmo à casa de banho);
– ficam mais agitados;
– choramingam;
– solicitam atenção;
– ficam deprimidos.
Com a chegada do proprietário a casa, o animal fica superexcitado, saudando o proprietário de modo mais efusivo do que o habitual.
Sempre que possível o proprietário deve evitar que estes comportametos se manifestem ou caso se começem a manifestar fazer todos os possíveis para que eles pararem. Quanto mais deixamos avançar este género de comportamentos, mais difícil é depois eliminá-los.
Para o seu controlo, deve haver uma modificação da relação do animal com o seu proprietário. Assim sendo deve-se:
– iniciar treinos obdiência;
– não permitir que o animal tenha acesso a objectos/móveis para detruir na ausência do dono;
– promover o excercício físico do animal;
– nunca efetuar estímulos positivos aos comportamentos indesejáveis do animal (ex.: acariciar o animal assim que o encontramos, falar-lhe, limpar/arrumar os estragos que ele fez, dar-lhe comida e água, levá-lo à rua assim que chegamos a casa).
A resolução deste problema passa por ensinar ao animal que a sua separação do dono não é um problema.
Em 1º lugar deve-se evitar ao máximo os rituais de partida e as despedidas do animal. Deve-se tentar dissociar o conjunto de acções que costumamos ter antes de sair com a nossa saída efectiva. Por exemplo, deve-se vestir o casaco mas não chegar a sair de casa, mecher nas chaves de casa e não nos dirigirmos para a porta. Deste modo tentamos desensibilizar o animal de pistas ligadas à crise de ansiedade.
Seguidamente o dono pode efectuar ausências de curta duração (aprox. 5 min.), para que, aos poucos, o animal consiga controlar a sua ansiedade. Essas saídas poderão ser aos poucos aumentadas mas sem ser de uma maneira muito linear. Poderá ser, por exemplo: 3, 5, 2, 4, 3, 6, 8min… mas deve ser sempre antes do animal manifestar sinais de ansiedade. Em algumas destas saídas o dono pode deixar a televisão ou o rádio ligados, ou algum brinquedo com o animal, mas este comportamento não deve ser sempre igual. O animal nunca deverá receber gratificação ou atenção nas partidas e chegadas.
O reforço positivo deverá só ser dado quando o animal já está calmo e sempre partindo a atitude do dono e não do animal.
Neste processo poderá ser necessário alterar hábitos tais como o animal dormir na mesma cama/divisória que o proprietário.
Nos casos mais complicados pode ser necessário utilizar ansiolíticos para controlo dos comportamentos indesejados. Estes medicamentos têm que ser prescritos pelo médico veterinário que assiste o animal. No entanto, estes medicamentos poderão ser completamente infurtuidos se o dono não seguir à risca todas as alterações comportamentais. A eliminação da sua toma deverá ser lenta.
Nesta patologia de ansiedade por separação a punição só agrava o problema.
A melhor solução é a prevenção. Assim sendo, quando chega o cachorro a casa, pense no que lhe poderá proporcionar durante o resto da vida dele e não lhe dê tempo a mais de atenção se já sabe que no futuro nunca poderá estar muito tempo com ele. Uma relação saudável faz-se quando ambos estão felizes um com o outro e vivem em harmonia nos períodos de ausência.